Por Aníbal Coutinho
Os principais constituintes do pescado são água (50 a 85%), proteínas (12 a 24%) e lípidos (0,1 a 22%). Os
restantes 2% são constituídos por compostos minoritários entre os quais
se salientam os sais minerais, os glúcidos e as vitaminas. Nos moluscos
bivalves encontram-se valores de proteína entre 9 e 13% e a água
aumenta.
A maridagem do vinho com a comida de mar deve resolver os
seguintes aspectos: nivelar a leveza e a dominância aguada dos produtos
marítimos, balancear a sua génese salgada e respeitar as composições
muito diferenciadas de proteínas e de gorduras ou lípidos.
De
maneira simples, podemos dizer que a fase sólida de um vinho deriva de
todos os contributos da película da uva, enquanto a fase líquida é
directamente proporcional aos contributos da polpa. Isto quer dizer que
os vinhos mais encorpados, sólidos e rugosos são aqueles em cujo
processo de vinificação entra a película da uva – aplica-se aos vinhos
tintos.
Pelo contrário, os vinhos mais aguados e capazes para a
combinação com comidas mais diluídas, como os produtos de mar, não devem
contactar com as películas da uva durante a fermentação – os vinhos
brancos – ou esse contacto deve ser muito breve e controlado para
extrair apenas uma ligeira cor – os rosé ou rosados.
A maridagem
mais consensual para os fantásticos pescados e mariscos da nossa costa é
o vinho branco ou rosado, com ou sem efervescência. A opção por vinhos
secos (sem açucares) é a ideal porque se relacionam melhor com a vocação
salgada destes produtos.
Devemos nivelar a força do vinho com a
força da espécie de pescado eleita para a nossa mesa. No marisco,
moluscos e pequenos peixes como a sardinha e o carapau, mas também a
pescada, domina a água (cerca de 80%). E os brancos e rosados das nossas
regiões atlânticas – Vinhos de Lisboa, Beiras Bairradinas e Vinhos
Verdes do Minho – são a escolha certa.
Os peixes mais volumosos e
com menor teor de humidade anseiam pela maridagem com os brancos e
rosados dos Vales do Interior – regiões de Trás-os-Montes, Douro, Dão e
Beira Interior.
Entre os produtos mais sólidos do mar destacam-se o
bacalhau, o atum e os peixes de forno. Para dimensões intermédias de
pescado, como as douradas de aquacultura e as composições de peixe e
marisco com arroz, legumes ou massas, os vinhos brancos e rosados das
regiões vinhateiras do Sul – Tejo, Alentejo, Península de Setúbal e
Algarve – merecem primazia à mesa. Destas regiões também devem sair as
opções de vinhos com taninos mais macios para os leitores que não
dispensam o fiel amigo com um tintinho.
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