Um blog nascido da curiosidade. O que afinal é a Enogastronomia? A simples harmonia entre o vinho e o prato? Mas e a companhia? E o local? E a paixão? E o doce sabor do beijo só pode durante a sobremesa? Me parece um universo inesgotável de variáveis. Assim não quero chegar tão cedo à harmozinação final. O que dá prazer é percorrer o caminho da busca. “De gustibus non disputandum est”. Afinal, o essencial é invisível aos olhos.
sábado, 6 de julho de 2013
Cabernet Sauvignon: Rainha ou Vadia?
Mais um amigo Di Vino colabora com nosso blog. Desta vez o luso-brasileiro João Luís Prada e Silva, dá sua opinião sobre a Cabernet Sauvignon.
By João Luís T. Prada e Silva:
A Cabernet Sauvignon é comumente chamada "rainha das uvas", mas, para mim, é viável uma interpretação alternativa. Eu, do alto da minha insopitável ignorância, prefiro chamá-la "a mais vadia das castas".
Originária da região de Bordeaux, espalhou-se mundo afora graças à sua vadiag..., ops, quero dizer, à sua marcante e conhecida adaptabilidade. Seja na própria Europa, seja nas Américas, ou onde quer que haja microclimas propícios à vitivinicultura, lá está ela, sendo plantada, crescendo, fermentando e gerando vinhos. De tudo que é categoria... Tornou-se, portanto, uma espécie de casta-curinga, uma campeã de audiência global, fato que, como se vê, deve ser analisado com certa cautela. A Cabernet Sauvignon está na boca do povo, dos enófilos, profissionais ou diletantes; virou, enfim, a uva padrão.
Segue a minha opinião, não pedida e nada mais do que minha: eu não sou admirador dessa variedade. Em geral, a C-S fornece vinhos excessivamente frutados para o meu paladar vinífero. Particularmente, prefiro as varietais típicas exclusivas, mesmo rústicas, que cheguem a ostentar o mesmo refinamento de outras castas mundiais. Prefiro, por exemplo, as portuguesas Tinta Roriz, Tinta Barroca, Preto Martinho, Castelão, Touriga Franca, Touriga Nacional, a castas-coringa como as Cabernet Sauvignon e Franc, a Merlot, a Syrah, que, por coringa serem, perdem, uma certa parcela da sua originalidade.
Um regional português, com ou sem DOC, com as varietais listadas acima costuma ser ácido (do que muita gente se queixa), braço forte, idiossincrático, generoso, companheiro para o dia-a-dia. Para mim, vinhos assim trazem as suas personalidades robustas, apesar de simples, a uma boa mesa.
Já vejam, por exemplo, este chileno da foto. Trata-se do Puerto Viejo, Cabernet Sauvignon, Reserva 2008, do Valle del Curico. É um C-S sul-americano bem típico. Para quem aprecia, é fruta pura, a ponto de lembrar xarope de groselha com amoras bem maduras. Eu acho bastante enjoativo, muitas vezes mais doce do que devia. Há quem prefira tintos assim aos tintos força bruta de Portugal. Quanto a mim, fico com os Frutos da Terra. Gosto é gosto, não é o que dizem?
Mas há exceção:
Surpreendente este tinto nacional, da serra catarinense. É o Sarau, da vinícola Santa Augusta: um Cabernet-Sauvignon triscado de Merlot. Muito equilibrado, sem o excesso de fruta típico da C-S. Jovem, macio, foi muito bem com contra-filé argentino mal passado.
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